Wednesday, May 21, 2008

Perseguir a própria cauda

Olho os campos a transpirar de vida, a transbordar de cor e sinto o chamamento da Mãe Terra. Sinto-o cada dia mais forte e cada dia mais difícil de ignorar.

Quero sentir a terra, as pedras, as ervas e tudo o resto nos meus pés descalços. Quero sentir a Mãe, a sua força, o seu amor incondicional, o seu cheiro... Quero sentir-me parte dela. Quero sentir tudo o que tenho direito e do qual me privei todos estes anos... e quero-o agora!

Apetece-me gritar! Largar tudo, deixar esta vida e esta sociedade com as suas regras loucas e partir em busca duma vida diferente. Libertar a minha alma desta meia-vida.

Olho para esta sociedade e vejo-nos num ciclo vicioso, qual cão a perseguir a sua própria cauda. Trabalhamos para ter uma casa melhor, um carro melhor, que não temos tempo de desfrutar porque temos que trabalhar cada vez mais para os pagar e manter. Quando alcançamos os nossos objectivos materiais continuamos a sentir-nos insatisfeitos e achamos que se conseguirmos ter mais coisas, mais poder, mais influência, resolvemos o problema. E então trabalhamos ainda mais para ter as tais coisas para as quais não temos tempo para saborear porque temos que trabalhar. E deixamos de ter tempo para nós mesmos, para a família, os amigos, deixamos de viver e perseguimos esta quimera de alcançar a felicidade através dos bens materiais.

Trabalhamos que nem escravos para dar melhores condições aos nossos filhos, mas não temos tempo para eles. Largamo-los às tantas da manhã numa instituição e vamos buscá-los já cansados e sem energia. Será que as melhores condições não são dar-lhes mais amor e não mais brinquedos, melhores escolas, roupas de marca....?

Que raio de vida é esta? Se é que lhe podemos chamar viver, que eu duvido muito que possa ser chamado assim.

Sinceramente, esta sociedade nunca fez qualquer sentido para mim desde que me lembro de ser gente. Nunca encontrei respostas às minhas perguntas e acabei por tentar encaixar-me nestas regras insanas. Mas agora conheci pessoas diferentes, vidas diferentes e as dúvidas e as questões voltaram... mas desta vez tenho respostas. E não é esta a vida que quero. Falta decidir como e quando fazer a mudança. Porque mudar isso já está decidido.

Este cão fartou-se de perseguir a cauda e sentou-se. Escolhe agora uma estrada diferente para seguir, uma outra vida para viver.