Ela não estava perdida num qualquer país longínquo, mas dentro de mim. Perdida e ferida, por anos de rejeição, de vergonha e de falta de amor.
Ainda me lembro de dizer que não era uma mulher, mas uma maria-rapaz: uma rapariga que queria ser um homem e por isso rejeitava o próprio corpo e o seu lado emocional.
Decidi aceitar-me tal como sou, tudo, sem deixar nada de fora. E isso inclui viver o meu feminino, a mulher que há em mim.
E quanto mais amo e aceito esta mulher, mais aceito os homens como iguais, como companheiros de vida. Não estou apenas a resgatar a minha mulher mas também o meu lado masculino e a relação com os outros: homens e mulheres.
Estou a aceitar a dualidade, os dois lados da vida: o yin e o yang, o dia e a noite, a vida e a morte, a alegria e a tristeza, as mulheres e os homens.
E os homens deixam de ser os tiranos abusadores à medida que percebo que quem mais abusou de mim fui eu mesma. Não posso esperar que me amem e respeitem quando eu própria não o faço.
Durante mais de 20 anos tentei ignorar o meu momento lunar (a menstruação, mas não gosto do nome). Cingia-me ao essencial e não pensava mais nisso.
Pela primeira vez, dei-me o prazer e a oportunidade de ficar apenas comigo e sentir o meu corpo. Aceitar a mudança, a nova fase do ciclo. E o que aconteceu foi surpreendente: as dores simplesmente desapareceram. Estavam cá apenas para me lembrarem que não devia ignorar o meu corpo, nem rejeitar-me a mim mesma.
Hoje vou festejar a minha menarca com uma grande fatia de bolo e um vestido vermelho :)
Agradeço-te Avó Lua, Mãe Terra, por este sangue, sinal de vida e abundância, sinal da minha capacidade de criar. Agradeço por ser mulher e por ter encontrado o meu caminho de volta ao teu regaço, Mãe, onde há apenas amor.
Fazer as pazes comigo mesma equivale a fazer as pazes com o mundo e com a vida :)