Monday, February 18, 2008

Peregrino, aquilo que procuras por esse mundo, está dentro de ti.

Percebi hoje que as minhas raízes sempre estiveram comigo, bastava apenas deixá-las sair.

As raízes são esta força e determinação inabaláveis dentro de mim. São a certeza de que nunca cairei porque estou sempre segura.

A fé sem limites na doçura e no amor do universo. A certeza de que não estou só, a certeza de ser infinitamente abençoada e amada.

A confiança absoluta na perfeição da vida.

Peregrino, aquilo que procuras por esse mundo, está dentro de ti.
(inscrição latina centenária, na catedral de Santiago de Compostela, Espanha)

Friday, February 8, 2008

Ao meu anjo protector

Quando escolhi morrer, tu vieste e deste-me a morte. O fim pelo qual tanto ansiava. Desta vez, escolhi viver e tu deste-me a mão e disseste: "Levanta-te e anda. Endireita-te e olha a vida nos olhos. Sê quem és, sê tudo o que podes ser. Não te encolhas, não há do que ter medo. A vida é para viver, sem mágoas, sem ressentimentos, sem culpas. É simplesmente para sentir a magnificência de quem na realidade somos."

Agradeço-te do fundo do coração, com toda a minha alma, pela tua força e dedicação. Por teres estado sempre ao meu lado, sem forçar a tua presença. Estiveste sempre lá e disseste-me que sou eu quem escolhe o meu destino. Nunca interferiste, deste-me sempre o que escolhi. Foste sempre imparcial, deixaste-me percorrer o caminho sozinha, apesar de estares sempre ao meu lado.

Sentia-me culpada por ter partido, mas sei hoje que o melhor que te posso dar é brilhar, brilhar com toda a minha força, em todo o meu esplendor. Ser quem sou. Simplesmente, ser quem sou.

Renascer

Hoje sinto-me renascer. Mais forte, mais determinada, com a certeza que sou eu quem comanda a minha vida. Sinto-me renascer das cinzas do que fui: uma vítima, uma desgraçada, alguém sem poder de escolha. Hoje sei que não sou nada disso. Sou muito, muito mais.

Sinto-me renascer mais forte e poderosa. Quero abrir as asas e mostrar toda a minha beleza. Voar livre pela vida.

Sei hoje que nunca fui fraca, vítima, desgraçada... eu é que me coloquei nesse papel, tirei a mim mesma todo o poder e dei-o aos outros. Pois, hoje, escolho viver por minha conta e risco. Eu sou responsável pela minha vida. Mais ninguém, só eu.

Hoje sinto um profundo respeito por mim mesma. Sinto-me forte, capaz de viver a vida por mim e para mim. Capaz de abarcar a vida na sua totalidade, completamente.

Acho que estou a criar as raízes que pedi :)

É um misto de dor e alegria. Dói mudar, mas há uma profunda alegria por saber que me estou a tornar em quem nasci para ser. Estou a deixar sair todo o meu potencial, tudo o que posso ser, cá para fora.

Percebi porque é que em tantas religiões, senão todas, as pessoas se ajoelham ou sentam no chão. Também eu hoje senti essa necessidade, mais forte que nunca. Porque é da terra que vêm a força para crescermos em toda a nossa beleza em direcção ao céu azul e estrelado.

Sinto essa força dentro de mim, a crescer, a mudar-me, enquanto escrevo estas palavras sentada no chão. Sinto-me voltar ao início, à semente de quem sou, aninhada na Mãe Terra, onde posso ganhar raízes e daí crescer para a vida.

Hoje já não me sinto uma vítima da vida. Sei que posso escolher. No mínimo, posso escolher como encarar as situações que encontro. Mas sei que é muito mais que isso, eu posso escolher a vida que quero. Eu posso, sozinha, decidir a vida que quero ter.

Sentir este poder é fantástico. Permite-me olhar a vida de outra perspectiva. Já não sou uma vítima sem escolha, eu escrevo esta história magnífica que é a minha vida.

E então o tempo pára. E tudo é agora.

A magnólia novamente. Vejo-a todos os dias e todos os dias fico fascinada pela sua beleza, como se a admirasse pela 1ª vez. Tem agora mais flores, apesar do vento e da chuva terem deitado ao chão muitas das suas pétalas.

Vi os seus braços abertos à vida. Vi os pássaros saltitar nos seus ramos: melros, pardais e outros que não conheço. A magnólia é a sua casa: brincam, brigam, cantam, namoram, têm filhos. A magnólia não interfere nas suas vidas, nem faz distinção sobre quem a pode usar. Não diz: "Melros, aqui não!" ou "Estou farta do Inverno. Este nao não vou deixar cair as minhas folhas!".

Ela aceita simplesmente a vida como lhe é dada. Ela vive a vida na sua plenitude: o bom e o mau, a dor e a alegria.

Li uma vez que a vida é uma viagem. Podemos relaxar e apreciar a paisagem ou podemos passar o tempo todo a discutir com o condutor sobre a forma como ele conduz. E quando damos por nós, a viagem terminou.

A magnólia aceita a vida de braços abertos: o vento que deita ao chão as suas pétalas, a chuva que a alimenta, o sol que a aquece. Aceita perder as folhas perante o rigor do Inverno e florir ainda antes da Primavera.

Vi ao longe, para lá da magnólia, um bando de cegonhas. Voavam até um determinado local e aí deixavam-se ir ao sabor do vento. Vi-as planar, rodopiar como folhas de papel. Acabaram por se lhes juntar outras aves a planar em círculos a diferentes altitudes. Formaram um suave tornado. Foi uma visão fantástica, senti-me profundamente abençoada.

Senti que o tempo tinha parado, que a vida é uma imensidão de coisas belas e que só temos que aprender a aceitá-las para desfrutar delas. Lembrei-me então duma das minhas frases favoritas:

"...Tudo é amor. Com o amor vem a compreensão. Com a compreensão vem a paciência. E então o tempo pára. E tudo é agora."

em "Só o amor é real", do Dr Brian Weiss

Criar raízes

Saí para sentir a nova terra que me acolhe. Parei, num lugar calmo, rodeado apenas pela natureza e inspirei para sentir a sua energia. Senti a firmeza dum rochedo, uma energia sem idade, com uma força inabalável.

Ouvi num tom rude e quase ameaçador: "Quem és tu?". Encolhi-me e hesitei. Perguntei a mim mesma "Quem sou eu?". E depois de hesitar mais um pouco, endireitei-me e respondi "Sou luz e vim morar aqui temporariamente."

Esperava uma reacção violenta à impertinência da minha resposta, mas recebi apenas doçura: "Temporariamente, dizes bem. Sê bem vinda, querida filha!".

No dia seguinte disse: "Aqui estou Mãe para criar raízes". E ouvi: "Tens certeza, filha? A dor será tanta que parecerá que te estou a arrancar a alma." Hesitei uns breves segundos e respondi com toda a convicção e força que encontrei dentro de mim: "Sim, tenho certeza". A resposta foi: "Assim seja."

Sinto-me lutar contra a dor da transformação, mas sei que é necessária. Sei que esta energia não me deixará partir enquanto não tiver as minhas raízes. Quando as tiver largar-me-á docemente no mundo, apesar de nessa altura já não querer partir.

Para renascer é necessário morrer. Para ganhar novas folhas é necessário deixar cair as actuais. A Primavera está a chegar e se quero florir tenho que deixar cair as minhas mágoas, culpas, tristezas e ressentimentos. Voltar-me para dentro, tornar-me forte, para então criar raízes e poder crescer, florir, viver.