Sunday, July 26, 2009

Resgatar a minha mulher

Ela não estava perdida num qualquer país longínquo, mas dentro de mim. Perdida e ferida, por anos de rejeição, de vergonha e de falta de amor.

Ainda me lembro de dizer que não era uma mulher, mas uma maria-rapaz: uma rapariga que queria ser um homem e por isso rejeitava o próprio corpo e o seu lado emocional.

Decidi aceitar-me tal como sou, tudo, sem deixar nada de fora. E isso inclui viver o meu feminino, a mulher que há em mim.

E quanto mais amo e aceito esta mulher, mais aceito os homens como iguais, como companheiros de vida. Não estou apenas a resgatar a minha mulher mas também o meu lado masculino e a relação com os outros: homens e mulheres.

Estou a aceitar a dualidade, os dois lados da vida: o yin e o yang, o dia e a noite, a vida e a morte, a alegria e a tristeza, as mulheres e os homens.

E os homens deixam de ser os tiranos abusadores à medida que percebo que quem mais abusou de mim fui eu mesma. Não posso esperar que me amem e respeitem quando eu própria não o faço.

Durante mais de 20 anos tentei ignorar o meu momento lunar (a menstruação, mas não gosto do nome). Cingia-me ao essencial e não pensava mais nisso.

Pela primeira vez, dei-me o prazer e a oportunidade de ficar apenas comigo e sentir o meu corpo. Aceitar a mudança, a nova fase do ciclo. E o que aconteceu foi surpreendente: as dores simplesmente desapareceram. Estavam cá apenas para me lembrarem que não devia ignorar o meu corpo, nem rejeitar-me a mim mesma.

Hoje vou festejar a minha menarca com uma grande fatia de bolo e um vestido vermelho :)

Agradeço-te Avó Lua, Mãe Terra, por este sangue, sinal de vida e abundância, sinal da minha capacidade de criar. Agradeço por ser mulher e por ter encontrado o meu caminho de volta ao teu regaço, Mãe, onde há apenas amor.

Fazer as pazes comigo mesma equivale a fazer as pazes com o mundo e com a vida :)

3 comments:

Funny said...

Todos deveríamos ser capazes de resgatar o homem e mulher que existe dentro de cada um de nós.

Aceitar-nos é sem dúvida o 1º passo. Obrigado pela tua partilha.

Cristina Gomes said...

:O) Boa! nada como descobrirmos as nossas feridas e olharmos para elas com todo o amor... um grande abraço ***

Sofia said...

Funny e Cris, agradeço as vossas palavras :) e o abraço